Nascimento e infância dos dois: Luis nasceu em 1823 em Bordeaux, França, filhos de pais católicos de muito fervor. Educaram o filho a ter muita fé desde criança. Quando jovem, Luis se tornou relojoeiro devido ao seu gosto pela tranqüilidade. Gostava de ler livros, principalmente os de romance. Era apaixonado por contemplar as belezas da natureza e até se emocionava pensando em Deus Criador de tudo. Gostava de bilhar e de pescar. Desejou muito entrar num mosteiro e ser religioso. Mas uma doença o interrompe nos estudos preparatórios e ele vê nisso um sinal de que Deus não o quer lá. Vai para Paris e se especializa mais como relojoeiro. Lá vive no meio de muitas tentações de cidade grande e pecados. Ele vence tudo confiando-se a Nossa Senhora das Vitórias, sua grande devoção. Ele gostava das seguintes frases: “Deus me vê. A eternidade se aproxima e não pensamos nela. Bem-aventurados os que cumprem a Lei do Senhor.” O jovem Luis estava sempre rezando muito e lendo a Bíblia e bons livros católicos. Sua mãe queria que ele se casasse de qualquer maneira, embora ele ainda pensasse em ser religioso. Quando Luis tinha 34 anos, sua mãe conheceu a jovem Zélia Guérin, de 26 anos. Zélia nasceu em Saint-Denis-sur-Sarthon, em 1831. Seus pais foram rudes e pouco amorosos com ela, a irmã e o irmão. Sua infância foi tão sofrida e ferida a ponto de Zélia dizer: “Minha infância foi triste como um lençol mortuário.” Eram tão pobres que Zélia nunca teve uma boneca. Ela ficou sempre doente dos 7 aos 12 anos. Sentia enxaquecas insuportáveis durante a adolescência. Tudo isso fez Zélia se tornar uma moça séria, sensível demais e sem nenhuma auto-estima. Mas sua vida dura a fez sempre forte na fé e constante na caridade. Ela sentiu vontade de se tornar freira, mas a superiora disse que não acreditava em sua vocação. Depois dessa tentativa, Zélia decidiu trabalhar fazendo renda para se sustentar.
Casamento: Num dos cursos, ela conheceu a mãe de Luis. Ela gostou imediatamente de Zélia e quis que ela e Luis se conhecessem. Os dois se encontraram pela primeira vez numa ponte. Zélia escuta a voz de Jesus lhe dizer: “Foi ele que eu guardei para você.” Eles se conheceram em abril de 1858 e logo se apaixonaram. Decidiram se casar rapidamente, com apenas 3 meses de namoro. Casaram-se sem nenhuma dúvida em 13 de julho de 1858. No dia do casamento, Luis deu a Zélia como presente uma medalha do casal bíblico Tobias e Sara com a inscrição: “Senhor, não é por prazer que tomo esta irmã, mas com reta intenção. Digna-te ter piedade de mim e dela e conduzir-nos a uma idade avançada.”
Filhos: Zélia e Luis tiveram 9 filhos, dos quais 4 faleceram ainda crianças: Helena, José, João Batista e Tereza. Todas as 5 filhas que sobreviveram se tornaram religiosas. Elas foram: Maria, nascida em 1860; Paulina, em 1861; Leônia, em 1863; Celina, em 1869 e Teresinha, em 1873, que hoje conhecemos como Santa Teresinha do Menino Jesus. Eles disseram: “Vivíamos apenas para nossos filhos e nisso consistia nossa felicidade, a qual encontramos apenas neles.” E também: “Queremos educar nossos filhos para o Céu.” O amor entre os dois: Eram muito amorosos um pelo outro. Zélia disse 5 anos depois do casamento: “Continuo muito feliz com ele, que torna a minha vida mais doce. Que santo homem é meu marido!” Ela sempre o chamava de “meu bom Luis”. Nas viagens, eles sentiam muito a falta um do outro. Zélia escreveu numa carta: “Não vejo a hora de estar novamente ao seu lado. Meu querido Luis, eu te amo de todo o meu coração e sinto dobrar a minha afeição com sua ausência. É impossível para mim viver sem você. Beijo-o do mesmo modo como o amo.” E Luis escreveu: “Beijo-a de todo o coração, na espera de me juntar a vocês novamente. Seu marido e verdadeiro amigo, que a ama por toda a vida!” E Zélia responde: “Hoje estou tão feliz de pensar em revê-lo que não consigo trabalhar. Sua mulher o ama mais que a própria vida. Sou toda sua.” Zélia se dizia tentada a ficar triste e se abater pelas dificuldades, mas lutava contra isso. Procurava estar sempre bem-humorada. Era muito delicada com os outros. Trabalhava muito para ajudar no sustento da casa e criar tantas filhas e quase não tinha nenhum descanso. Zélia disse: “O principal é ser uma boa dona de casa que não tenha medo de sujar as mãos no trabalho e que saiba educar os filhos no trabalho e na piedade.” Luis era muito doce, mas firme contra pecados e injustiças. Ele e Zélia se conheciam tão bem que costumavam a adivinhar os pensamentos e vontades um do outro.
Diferenças como todo casal: Os dois gostavam de ler as histórias dos Santos e seus assuntos preferidos eram sobre as coisas de Deus. Mas tinham diferentes atividades. Luis gostava de se retirar para solidão e oração. Zélia gostava de escrever para os irmãos e participar de grupos de oração. Ela fazia parte da Ordem Terceira Franciscana. Mas os dois também tinham idéias diferentes em casa e discutiam para resolver. Zélia não guardava mágoa desses momentos e Luis jamais pisava nela com autoridade. Ele sempre a respeitava e era flexível com as idéias e pedidos diferentes. No final, tudo acabava resolvido em paz entre os dois, pois um sempre se respeitavam e jamais queriam entristecer um ao outro. Zélia preparou suas filhas com muitíssimo zelo para fazerem a Primeira Comunhão. Ela começou a ver em tudo a mão de Deus, conforme a sua irmã, que se tornou religiosa, ensinou. E sempre se recomendava às orações da irmã religiosa. Luis continuava gostando de ajudar os necessitados, e em vez de eventos sociais como a maioria das pessoas, preferia rezar. Zélia disse: “Quero ser santa.” E Luis escreveu: “Minha meta é amar a Deus de todo o meu coração.”
Mortificações e Eucaristia: Zélia e Luis iam à Missa diariamente. Sua principal devoção era, sem dúvida, a Eucaristia. E as filhas passaram a gostar disso também. Mas devido aos horários e trabalhos que tinham, Zélia e Luis precisavam ir em Missas muito cedo ou muito tarde, muitas vezes com sono e cansaço. Os dois também jejuavam sempre, às vezes com grandes e fortes jejuns. Mas sempre com amor e intenção. Luis sempre viajava de terceira classe, jamais na classe rica, e comia sempre o pão mais barato.
Paciência nas cruzes: Os dois passaram por muitas dificuldades nos trabalhos e sustento da casa. Mas viam como a providência divina os ajudava de maneira maravilhosa. Zélia era muito meticulosa e às vezes se preocupava demais com os problemas grandes e os pequeninos, mas Luis a acalmava dizendo: “Não se atormente tanto! Não tenha medo. O Bom Deus nos ajudará.” Mesmo assim, Zélia sabia rir das dificuldades que já tinha passado na vida. Ela disse: “A verdadeira felicidade não é deste mundo. É perda de tempo procurá-la aqui. Deus quer assim em sua infinita sabedoria para nos lembrar que a Terra não é nossa verdadeira pátria.” E também: “O melhor é colocar tudo nas mãos de Deus e esperar os acontecimentos na calma e abandono à vontade de Dele. Quando se trata de algum sofrimento grande, estou completamente resignada e espero o socorro de Deus com confiança. Sei que o Bom Deus cuida de mim. Ele só nos dá o que podemos suportar.”
Devoção a Nossa Senhora: Zélia e Luis sempre ofereciam todos os sofrimentos do dia-a-dia, pequenos e grandes, pela conversão dos pecadores. Eram grandes devotos de Nossa Senhora. Usavam sempre o Escapulário e incentivavam as filhas a usá-lo. Tinham em casa uma imagem de Nossa Senhora do Sorriso e todas as noites rezavam diante dela com as filhas. Em todo mês de maio, a família toda enfeitava a imagem com muitas e variadas flores e enfeites. Zélia se preocupava até com os mínimos detalhes para enfeitar a imagem de Nossa Senhora.
Morte dos filhos pequenos: Zélia sofreu profundamente com a morte de cada um dos filhos que morreram ainda crianças. Ela chegou a ficar doente de tanta tristeza, tamanho era seu amor por eles. Cada morte de um dos meninos ou das meninas era uma grande dor para ela. Mas se agarrava a Deus e na conformidade com a vontade Dele dizendo: “Deus nos deu, Deus tirou. Bendito seja Deus! Aceitemos seus desígnios com todas as forças. O Bom Deus é o Mestre e não precisa pedir permissão para nós se pode fazer alguma coisa. Ele permite tudo isso para o nosso bem e seu socorro e sua graça jamais faltarão.” Os dois tinham o sonho de ter um filho que se tornasse sacerdote missionário, mas os dois meninos faleceram ainda crianças. Porém, Teresinha se tornará a Padroeira das missões. Zélia e Luis pediam sempre a seus filhos falecidos para intercederem por eles no Céu.
Educação e amor às filhas: Zélia disse: “Amo loucamente as minhas filhas. Nasci para elas. É preciso fazer sacrifícios pela felicidade dos filhos.” Ela era uma mãe coruja e achava todas muito lindas. Ela disse: “É tão agradável cuidar dos próprios filhinhos!” Ela e Luis também brincavam muito com as filhas. Eles tinham uma empregada na casa, mas sempre a tratavam muito bem, como alguém da família. A casa ficava sempre alegre com as filhas correndo e brincando para todo lado. Eram muito amorosos e sempre diziam às filhas que as amavam. Elas também faziam o mesmo. Zélia e Luis procuravam ficar o máximo de tempo possível com as filhas, com brincadeiras, histórias e conversas. Porem, eram enérgicos em corrigi-las e educá-las. Nem a menor falta ficava sem correção. Elas jamais foram mimadas. Zélia e Luis sempre se preocupavam com a alma das filhas. Zélia gostava de vesti-las bem, mas com simplicidade. Ela não gostava da escravidão da moda.
Dificuldades na criação: É claro que as filhas também tinham problemas e defeitos, mas costumavam ser pequenos. O problema maior foi com a Leônia. Ela tinha um caráter muito difícil e rebelde desde que nasceu. Zélia e Luis se preocupavam muito com isso. Era uma menina tão rebelde e resistente que Zélia quase desanimou, mas disse: “Espero contra toda esperança. Rezarei muito e ela acabará cedendo. Às vezes, ela me tira do sério. Não consigo vencê-la. Ela só faz o que quer e como quer. Os pais devem tomar cuidado com o orgulho que as crianças têm. Ele deve ser combatido pelos pais.” Luis dizia: “Educamos nossas filhas para o Céu. Enquanto estamos aqui neste mundo, precisamos servir ao Bom Deus e esforçar-nos para estar um dia entre os Santos.” As meninas sempre viam Luis rezando de joelhos. Para incentivá-las a fazerem o bem, ao invés de balas e presentinhos, ele propõe às meninas fazerem uma boa ação pela conversão de um pecador, ou como um consolo para Jesus ou para agradar a Jesus.
Trabalho com rendas: Zélia recebia muitas encomendas para seu trabalho com rendas. Fazia as rendas enquanto cuidava das filhas em casa. Quase não tinha tempo para si nem para descansar. Dizia se sentir sempre cansada, mas suportava tudo por amor à família. E também: “Eu trabalho sempre na esperança. Amar é dar tudo e se doar inteiramente.” As dificuldades sempre apareciam, mas ela dizia: “Eu me preocupo menos e me conformo com todos os acontecimentos desagradáveis que podem surgir. O Bom Deus permitiu assim. Quando o Bom Deus achar que já tivermos sofrido o bastante, Ele tirará nossa aflição.”
Caridade com os necessitados: Diferente de outros da cidade, Zélia e Luis jamais trabalhavam aos domingos. Eles eram extremamente confiantes na providência divina e desapegados ao dinheiro. Eram generosos em emprestar dinheiro aos necessitados e nunca cobravam juros. Luis disse: “Dê, dê sempre e faça muita gente feliz.” Certo dia, Luis encontrou uma família desabrigada e a hospedou em sua casa. Zélia lhes deu comida e Luis procurou um emprego para o pai daquela família. Luis sabia nadar muito bem e salvou muitos que se afogavam e nos incêndios. Quando ele demorava voltar para casa, diziam: “Em qual aventura perigosa ele terá ido salvar alguém?” Outro dia, ele viu um bêbado na rua e o levou para sua casa. Depois o visitou para conversar com ele e convencê-lo a largar o vício. Zélia e Luis eram generosos nas esmolas aos pobres que visitavam suas casas. Eles sempre rezavam fervorosamente pelos que se recomendavam às suas orações e principalmente pelos pecadores e pelos agonizantes, pois eram muito preocupados com a salvação das almas. Costumavam visitar os agonizantes em casa e rezar por eles até sua morte.
Doença de Zélia: Em 1876, Zélia foi diagnosticada com câncer de mama aos 45 anos, com risco de falecer em pouco tempo. A família toda ficou muito arrasada e choraram muito. Luis ficou tão triste que não saia mais para passear nem para as pescas que tanto gostava. Zélia disse: “Jamais imaginei passar por semelhante provação. Estou tranqüila e me encontro praticamente feliz. Mas custa-me deixar meu marido e minhas filhas.” Ela se conformou imediatamente e sempre tentava consolar os familiares. Ela sentia dores no corpo, mas não deixava ninguém perceber. Todos os familiares começaram a rezar por sua cura. Mas Zélia pressentia que não seria curada. Na ocasião, as filhas mais velhas já eram moças e poderiam cuidar das mais novas. Em 1877, as metástases começaram a aparecer no corpo de Zélia e no pescoço. Meses depois, ela e algumas das filhas foram em peregrinação a Lourdes para pedir a cura. Zélia disse: “Seja o que Deus quiser. Tudo se orienta para a glória de Deus.” Toda a família rezou muito pedindo um milagre da cura. Antes de partir, Zélia disse: “Precisamos aceitar generosamente a vontade de Deus, qualquer que seja, pois ela será sempre o melhor para todos nós.” Luis ficou com outras filhas em casa rezando. A viagem a Lourdes foi desagradável e cheia de transtornos. Zélia disse: “Nunca imaginei uma viagem tão ruim.” E não foi curada. Mas lá, ela pediu a santificação das filhas a Nossa Senhora e isso se realizou mais tarde plenamente! Zélia voltou alegre da peregrinação e cheia de paz. Ela sentiu que Nossa Senhora era quem cuidaria de suas filhas quando morresse e disse: “Reze com fé à Mãe de misericórdia. Ela virá em nosso socorro com a bondade e a doçura da mais carinhosa das mães.”
Morte de Zélia: Em julho de 1877, as dores insuportáveis de Zélia pioraram e ela precisava se segurar para não gritar. Mesmo com dores, ela continuava indo à Missa todos os dias, sendo segurada pelo marido ou alguma filha, pois já não podia se mover sozinha. Mesmo tão doente, ela queria que a casa ficasse sempre alegre e com diversão para as filhas pequenas. Ela chegava a gemer e tremer com as dores do câncer, mas sempre rezando muito. Chamou as filhas para dar as últimas recomendações e lhes convidou à santidade. No dia 27 de agosto de 1877, Zélia expirou suavemente e entregou sua alma a Deus, aos 46 anos. Seu confessor disse: “Agora, há mais uma Santa no Céu.”
A vida continua: Zélia tinha pedido ao marido e as filhas que se mudassem de Alençon para Lisieux após sua morte para ficarem mais perto dos outros parentes. E eles foram. Ali continuaram indo à Missa todos os dias e rezando juntos diariamente em casa. As filhas mais velhas, agora moças, cuidavam das mais novas. Luis era sempre amoroso e carinhoso com as meninas. Continuava ajudando os vicentinos e outras atividades da paróquia. A empregada disse que a casa estava sempre alegre. Teresinha escreveu para ele: “Tua alma era toda cheia de Deus e de amor. Esse bendito exemplo me inflama. Quero seguir-te também. Quero imitar-te, paizinho, tão carinhoso, tão doce e tão bom.”
Vocação das filhas: Todas as filhas quiseram tornar-se religiosas. Em 1883, Paulina entrou no Carmelo. Depois, foi a vez de Maria em 1886. Em 1888, foi a vez de Teresinha. E em 1893, Leônia entra também. Luis as apoiou, mas não sem sofrer, pois lhe custava muito ficar longe delas. Ele disse: “Deus me concede uma grande honra ao pedir minhas filhas.” Celina ficou em casa por último, por desígnio da providência, para ajudar Luis na doença que viria. Depois da morte dele, ela entrará para o Carmelo também.
Doença e morte de Luis: Luis rezou: “Meu Deus, estou muito feliz. Não é possível ir para o Céu assim. Quero sofrer algo por Vós. Eu me ofereço.” Em 1887, aos 63 anos, ele começou a sofrer de arteriosclerose. Essa doença atrapalhava seus movimentos e sua mente. Em maio de 1888, Luis começou a sofrer de perdas da memória, alucinações e confusão mental. Mas tinha momentos de mente sã. Ele disse: “Não se preocupem. Sou amigo do Bom Deus. Que tudo seja para a maior glória de Deus.” Ele precisou ser internado no hospital psiquiátrico em Caen. As filhas sofreram muito com isso. No hospital, Luis continuava com momentos de confusão e mente sã onde mostrava acolher esta cruz: “Esta é uma grande cruz. Não é fácil. Jamais tive alguma humilhação em minha vida. Faltava esta!” Ali no hospital, ele era amigo de todos os outros doentes mentais e lhes levava a Palavra de Deus e consolo. Luis ficou internado neste hospital por 3 anos. Em 1892, volta para casa numa cadeira de rodas, pois não podia mais andar e é cuidado por Celina e um empregado. As outras filhas continuaram no Carmelo, sempre rezando por ele. No dia 29 de julho de 1894, recebe os últimos Sacramentos e olha ternamente para Celina, que reza ao seu lado. E expira em paz, aos 70 anos, neste dia de domingo, dia do Senhor que ele tanto venerou e defendeu. Santa Zélia e São Luis Martin foram canonizados em 2015. Como foram canonizados juntos e como casal, sua festa é celebrada em 12 de julho de cada ano, data em que se casaram.